Guia de Pegação Gay em São Paulo – Jornalistas visitam os maiores “Banheirões Gays” da capital.
O Elástica da editora Abril publicou uma matéria muito interessante (vezes até fantasiosa) sobre alguns dos principais pontos de pegação gay da capital paulista, replicamos a matéria a seguir. Confira!
Em São Paulo, às 2h da manhã, um jovem entrou em um supermercado 24h para ir ao banheiro. Do mictório, ouviu gemidos que vinham de dentro de uma das cabines. Ao seu lado, um senhor de aproximadamente 60 anos se aproximava devagar com a mão dentro das calças.
O rapaz saiu apressado do local. Ele não sabia, mas tinha acabado de entrar em um dos banheiros secretos de São Paulo, onde homens se encontram para fazer sexo com estranhos. O que leva esses caras a fazerem isso? Alguns frequentam os banheiros por medo de sofrerem ataques homofóbicos. Outros, por fetiche.
Os endereços e o manual de conduta são fáceis de encontrar. Basta jogar no Google palavras chave como “guia”, “gay”, e “banheiro”, que uma lista com os pontos mais frequentados do sudeste aparecem. É o Guia Gay Brasil. Publicado em 2013, o documento compila os melhores pontos de pegação para gays, bi e curiosos. Tentamos entrar em contato com os organizadores do guia, mas o e-mail divulgado não existe mais. É quase um manual abandonado. Os banheiros, por outro lado, continuam bombando.
Folheando as páginas digitais, são encontradas informações detalhadas sobre mais de 200 banheiros no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. São conhecidos como “banheiros de pegação”. Também há dicas de como se portar e mostrar-se disponível para o sexo de forma discreta e segura – como regras de uma sociedade secreta. “Mantenha a privacidade de todos: você descobriu que aquele cara que estava chupando o pau de todos no banheiro é casado, tem três filhos e trabalha na mesma empresa que você? Esqueça. Fora do banheiro você não reconhece ninguém” e “Não fique entrando e saindo do mesmo banheiro, vai chamar a atenção de todo mundo do lado de fora, inclusive da segurança”, são algumas das normas ali indicadas.
A ideia de transar em público é sem dúvida interessante. Mas pode dar cadeia. No Brasil, transar em local público é considerado crime de ato obsceno. Caso o casal seja pego em flagrante, poderá ser encaminhado para uma delegacia. A pena é de três meses a um ano de detenção ou multa. “Isso faz parte da natureza humana. A repressão sexual faz com que as pessoas busquem espaços alternativos para realizar fantasias e experimentar novas práticas”, diz o psicólogo e coordenador do Núcleo de Estudos em Corpos, Gêneros e Sexualidade da Unesp, Paulo Rennes. “Ao mesmo tempo em que valorizamos o sexo, somos reprimidos por manifestações conservadoras e movimentos religiosos, por exemplo, que impedem certas práticas”, completa.
Independentemente de estar certo ou errado, o fato é que a coisa continua pegando fogo em muitos desses banheiros. Confira o que a gente viu em quatro desses lugares:
Estação de trem Brás – O banheiro próximo à escada rolante – Dia 24 de fevereiro, às 12h30.
“Eu vou matar esses viados!”, disse um homem com a camiseta do Santos e uma bermuda vermelha. Na hora, muitos ignoraram. Outros, no entanto, viraram o rosto de forma rápida, para evitar contato visual. A cena se passa no banheiro do terminal ferroviário do Brás, onde a menos de três metros desse homem, duas pessoas se masturbavam.
O banheiro é um dos mais conhecidos pelos homens que procuram sexo fácil e não é por menos: a estação é a mais movimentada da rede metro-ferroviária de São Paulo, com entrada de 150 mil passageiros diariamente. De acordo com o último relatório administrativo divulgado pela CPTM, 46 pessoas foram encaminhadas para distritos policiais em função de importunação ofensiva ao pudor e atos obscenos.
Todo feito com azulejos brancos, mas encardidos, o banheiro se divide em três áreas simples: a parte de lavabo, cada um com espelhos à sua frente; a parte do mictório e a dos reservados. Quem acha que o local é um banheiro comum, consegue sair de lá acreditando nisso. A maioria das pessoas simplesmente entra, dirige-se ao mictório, lava a mão e vai embora. Porém, com uma breve olhada para os lados, percebe-se que o banheiro é muito mais do que uma simples parada para não seguir a viagem com a bexiga cheia.
Às 13h, três homens formavam uma fila para usar o mictório. Na frente dela, um jovem de camiseta roxa, brincava com sua pulseira de palha. Um mictório fica livre, mas ele não se mexe. “Vocês vão usar?”, pergunta impaciente um idoso, terceiro da ordem. “Eu vou!”, disse o segundo que, ao pedir licença para o jovem de roxo, percebeu um olhar de desapontamento. Apenas ele estava ali para sexo.
Na região do mictório, alguns homens olhavam para os lados regularmente. Quando olhares se cruzavam, era um sinal. Enquanto um dos repórteres urinava, dois homens que estavam nos mictórios ao lado começaram a se masturbar. “Gostoso!”, sussurrava um deles para o jornalista, “Menino bonito. Gostoso!”.
Durante a cena, um segurança da CPTM entrou. Clima tenso. Ele tentou abrir a porta para deficientes, mas só o faxineiro estava ali. Passou pelo mictório, pelos reservados, pelo lavabo. Repetiu. Mictório, reservados, lavabo. Parou no mictório, urinou, passou pelo reservado, lavou as mãos e saiu. “Preciso revistar o banheiro a cada 15 minutos. Viu? Acabei de sair de lá e já preciso voltar”, diz o segurança. “Às vezes recebo denuncias de usuários, noutras, eu pego no flagra. São homens de todas as idades atrás de sexo”, completa.
Do lado de fora do banheiro, alguns homens ficam sentados nos bancos de espera, mexendo no celular, ou encarando quem passa pela frente. Um senhor de 70 anos mexia no pau por cima da calça olhando para os lados. Quando um homem sentou ao seu lado, ele passou o braço pelas costas, sem parar de se tocar.
McDonald´s, Rua Augusta – Dia 24 de fevereiro, às 14h.
No fim do horário tradicional de almoço, o cenário era bem frustrante para quem procurava por uma sobremesa extra nos banheiros: a lanchonete estava pouco movimentada e a maioria dos clientes era do sexo feminino. No andar de baixo, os pedidos eram feitos sem muita fila. Quem subia para o segundo piso encontrava um ambiente mais vazio ainda – e os banheiros. Lá dentro o espaço era pequeno. Dois mictórios, separados por uma divisória, ficam ao lado da porta. Um reservado ocupa a maior parte da área e duas pias completam a área. Com mosaicos laranja extremamente limpos, o local cheira bem.
Sem motivo aparente, um segurança do restaurante frequentemente ia até o banheiro masculino. Abria a porta, olhava para dentro do recinto e saía, num gesto automático. Ninguém aparecia e quando, finalmente, um homem subia, o tempo dentro do toalete poderia ser contado em segundos.
Até que um homem entra no banheiro. Alto, musculoso e careca, vestia uma camiseta polo branca e um relógio dourado no pulso esquerdo. Ao entrar, aproveitou do espaço apertado do banheiro para roçar em um repórter, que usava o mictório. Não foi preciso muito mais do que uma inclinada de cabeça para que ele começasse a encarar o pau do jornalista. A cena dura alguns segundos. O repórter olha para ele. Com um olhar agressivo, o homem encara o jornalista e volta a ficar reto. O repórter sai de perto. Vai até a pia, e começa a lavar as mãos. Olha para o espelho, e o homem ainda está no fundo do banheiro, apenas o olhando fixamente. O careca se aproxima e analisa o jornalista dos pés a cabeça sem disfarçar. O olhar agressivo, porém, permanece. Não fica claro se ele quer bater no repórter ou transar.
Segundos depois, um universitário entra no banheiro. O rapaz afirmou ter 25 anos e disse ir com frequência ao Mc Donald’s atrás de sexo. Em uma fração de segundos, os dois estão transando no meio do banheiro: o segundo rapaz se ajoelha e começa a fazer sexo oral no careca de polo branca. Um funcionário do McDonald’s chega a abrir a porta, flagrar a cena, mas aparentemente finge não ver nada e sai do banheiro sem fazer qualquer coisa.
Enquanto toda a cena se desenrola no banheiro, a poucos metros, no andar de baixo, uma criança pede um McLanche Feliz. Na saída do restaurante, uma placa dizia um singelo “que bom que você veio”.
Supermercado Extra, Av. Brigadeiro Luís Antônio – Dia 26 de fevereiro, às 20h30.
O guia informa que o banheiro é frequentado por homens mais velhos. “Público muito discreto, não desequilibre”. De dia, o cenário é tranquilo: as pessoas que usam o banheiro seguem o modelo, digamos, mais ortodoxo de utilização. Apesar disso, os funcionários do mercado garantiram que a reputação é real. Os sanitários são vazios durante o dia e de noite viram ponto de encontro. Os seguranças noturnos afirmaram fiscalizar os banheiros com frequência na tentativa de evitar os encontros. Com razão.
Às 20h30, um homem, ao notar a presença do repórter no banheiro, começou a se masturbar na frente do mictório.
O banheiro é razoavelmente limpo, mas um detalhe chama a atenção. Nas partes internas dos reservados estão rabiscadas diversas ameaças de cunho homofóbico. Coisas como “Atenção a todos os viado desse banheiro nóis vai pegar 1 por 1 e vamos matar. Não desacredita” (sic) e “viado tem que morrer estrupado” (sic). As frases traziam a assinatura do PCC, o Primeiro Comando da Capital – uma das principais facções criminosas do país.
O rapaz que se masturbava no mictório afirmou ter 26 anos, disse que trabalhava ali perto e contou que ia sempre naquele banheiro procurar por sexo. Sobre as pichações nas paredes, disse não se importar. “As pessoas falam muito e não fazem nada. É só para assustar. Nunca fiquei sabendo de nada que tenha acontecido aqui”, contou.
Outro homem entrou no banheiro, colocou uma lixeira atrás da porta para o caso de outra pessoa entrar e começou a se masturbar ao lado do repórter. Ele tinha 50 anos e afirmou ir sempre àquele banheiro. “Toda vez que eu procuro sexo aqui, encontro”, disse.
Shopping Ibirapuera – Banheiro próximo à praça de alimentação – Dia 26 de fevereiro, às 14h.
“É uma das maiores pegações em banheiros de shopping de toda grande São Paulo”, diz o guia. Os boatos eram de que os melhores banheiros eram os mais distantes da praça de alimentação, justamente por serem menos movimentados, mas os boatos estavam errados.
Às 14h, um rapaz jovem, moreno encarou o repórter e começou a se masturbar em frente ao mictório. Ele fazia gestos com a cabeça, indicando a cabine reservada. Minutos depois, um funcionário da limpeza apareceu, bloqueando a passagem para a cabine e encarando os dois homens no banheiro.
Os outros banheiros do shopping eram diferentes. Pareciam projetados para barrar qualquer pegação. De acordo com o Guia, a essa estrutura faz parte de uma reforma recente. A disposição das paredes, dos espelhos, dos mictórios e dos reservados garantiam que nada de mais ousado passaria despercebido aos olhos dos funcionários da limpeza.
Com informações do ELASTICA.